“Olha
Brasília está florida, estão chegando as decididas.
Olha
Brasília está florida, é o querer, o querer das Margaridas”
Canto das
Margaridas – Loucas de Pedra Lilás
Margarida Maria Alves foi a primeira
mulher a ser presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa
Grande-PB, onde permaneceu por 12 anos. A luta da líder sindical era pelo
décimo terceiro, pela carteira assinada, pelo direito ao sítio em terras dominadas
pelos canaviais. Ela dizia: “é melhor morrer na luta do que de fome”. De fato,
em 1983 foi assassinada na porta de casa por um matador de aluguel. Hoje, 32
anos depois, suas palavras ecoam na voz de outras 70 mil mulheres na 5ª Marcha
das Margaridas, que ocorreu nos dias 11 e 12 de agosto, em Brasília.
Vindas dos quatro cantos do Brasil essas
mulheres somaram forças no combate a todo tipo de violência e na luta por um
conjunto de demandas que fortaleça sua autonomia e qualidade de vida. Esta
edição da Marcha teve como lema a construção de uma sociedade com “Desenvolvimento
Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”.
Diversas caravanas foram acolhidas no estádio Mané Garrincha, onde aconteceu a
maior parte da programação. No dia 11, no palco principal, na Conferência sobre
Políticas Públicas para as Mulheres Trabalhadoras Rurais, uma das participantes,
a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), afirmou “que esse país só será justo e
igualitário quando não houver nenhuma dor em ser mulher”. Kokay ainda ressaltou
a necessidade de todas as políticas públicas brasileiras contemplarem as
questões gêneros.
Ainda na terça-feira (11) foram
realizados painéis temáticos e espaços interativos. Um desses espaços destinado
às “Mulheres na Luta por Soberania Alimentar, Construindo a Agroecologia” discutiu
o papel fundamental das mulheres nas práticas agroecológicas e de sua
importância para a segurança alimentar e do meio ambiente. A paraibana Maria do
Céu, do Polo da Borborema, estimulou o diálogo a partir da exibição de três
produções locais: “Minha vida é no meio do mundo”; “A vida de Margarida” e
“Zefinha quer casar”.
O uso indiscriminado de agrotóxicos, a
produção ofensiva de transgênicos e o descuido com os saberes tradicionais foram
alguns assuntos discutidos. Apesar de alguns avanços nas políticas públicas
voltadas ao campo como o P1MC ou P1+2, Céu reafirmou a necessidade da
continuidade das mulheres seguirem em marcha: “As tecnologias sociais de
armazenamento de água fizeram uma revolução na vida de nós mulheres do
semiárido, mas há ainda muitas mulheres que estão sozinhas em seu cantinho,
porque não podem sair”, ressaltou.
Em outro espaço as representantes do
Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE) estimulavam a
pauta “Mulheres na Luta pelo fim da Violência” que trouxe depoimentos fortes das
mulheres sobre as violências sofridas e os caminhos de libertação. No início da
noite aconteceu a abertura política da Marcha com a participação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra da Secretária de Mulheres,
Eleonora Menicucci e do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias.
Lula ressaltou que não haverá golpe e
que a Marcha é um espaço de reafirmação de uma
eleição democrática. "A presidenta Dilma deve estar agora orgulhosa de
presidir um país que tem um povo da qualidade das margaridas que estão aqui
hoje", disse o ex-presidente. "Hoje é um dia para celebrar a força
das mulheres e do povo brasileiro", e completou: "se tem uma coisa
que o povo brasileiro aprendeu nos últimos anos, foi fazer a sua própria
história".
A ministra da secretária de Mulheres, Eleonora Menicucci, também defendeu a presidente Dilma: "mulher nenhuma pode aceitar o ódio de gênero, o ódio de quem não suporta uma mulher governando este país". Uma das principais pautas reivindicatórias da Marcha é a reforma agrária que não avançou na última gestão governamental. O ministro Patrus Ananias reacendeu tal compromisso em sua fala.
Marcharemos
até que todas sejamos livres
Antes do sol tomar prumo, milhares de
mulheres acenavam suas bandeiras, estendiam suas faixas de tecido, levantavam
placas e ecoavam gritos de ordem, já nas primeiras horas da manhã de quarta. No
Estádio Mané Garrincha a concentração para o grande ato de rua da Marcha ganhou
força e as ruas de Brasília. As Margaridas coloriram o Eixo Monumental,
culminando com o cercamento do Congresso Nacional, numa espécie de ciranda das
mulheres brasileiras, da celebração da democracia.
Após a Marcha, as margaridas
retornaram ao estádio Mané Garrincha para receber a presidenta Dilma em reposta
a carta entregue no último dia três de julho aos ministros da Secretaria Geral,
Política para Mulheres, Desenvolvimento Social e Combate a Fome e
Desenvolvimento Agrário com a pauta da 5ª Marcha das Margaridas. O documento
contempla 402 reivindicações das Margaridas do campo, da floresta e das águas e
reflete demandas levantadas durante todos os encontros de preparação em todas
as regiões do país, a partir de temas específicos e fundamentais para uma vida
mais humana e com respeito à natureza.
A presidente Dilma disse em seu
pronunciamento, após receber um chapéu de camponesa, símbolo da Marcha, que
“decidida”, como descreve a música tema, é a melhor definição para todas as
mulheres que estavam ali. “Mulheres decididas a batalhar juntas por um mundo
melhor. Decididas a avançar nos direitos, repudiar a injustiça àqueles que
menosprezam as mulheres. Decididas a lutar por mais autonomia e contra qualquer
opressão. Decididas a reafirmar o poder das Margaridas de construir nossas
histórias”, ressaltou. Já Alessandra Lunas, representante da secretaria de
mulheres da CONTAG, a partir da realização da mística, na solenidade com a
presidenta, finalizou “As margaridas seguem marchando para que continuemos a
tirar nossas mordaças”.