quinta-feira, 20 de agosto de 2015

MARGARIDA CONTINUA A SEMEAR OUTRAS VOZES FEMINISTAS






“Olha Brasília está florida, estão chegando as decididas.
Olha Brasília está florida, é o querer, o querer das Margaridas”

Canto das Margaridas – Loucas de Pedra Lilás

Margarida Maria Alves foi a primeira mulher a ser presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande-PB, onde permaneceu por 12 anos. A luta da líder sindical era pelo décimo terceiro, pela carteira assinada, pelo direito ao sítio em terras dominadas pelos canaviais. Ela dizia: “é melhor morrer na luta do que de fome”. De fato, em 1983 foi assassinada na porta de casa por um matador de aluguel. Hoje, 32 anos depois, suas palavras ecoam na voz de outras 70 mil mulheres na 5ª Marcha das Margaridas, que ocorreu nos dias 11 e 12 de agosto, em Brasília.

Vindas dos quatro cantos do Brasil essas mulheres somaram forças no combate a todo tipo de violência e na luta por um conjunto de demandas que fortaleça sua autonomia e qualidade de vida. Esta edição da Marcha teve como lema a construção de uma sociedade com “Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”.

Diversas caravanas foram acolhidas no estádio Mané Garrincha, onde aconteceu a maior parte da programação. No dia 11, no palco principal, na Conferência sobre Políticas Públicas para as Mulheres Trabalhadoras Rurais, uma das participantes, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), afirmou “que esse país só será justo e igualitário quando não houver nenhuma dor em ser mulher”. Kokay ainda ressaltou a necessidade de todas as políticas públicas brasileiras contemplarem as questões gêneros.

Ainda na terça-feira (11) foram realizados painéis temáticos e espaços interativos. Um desses espaços destinado às “Mulheres na Luta por Soberania Alimentar, Construindo a Agroecologia” discutiu o papel fundamental das mulheres nas práticas agroecológicas e de sua importância para a segurança alimentar e do meio ambiente. A paraibana Maria do Céu, do Polo da Borborema, estimulou o diálogo a partir da exibição de três produções locais: “Minha vida é no meio do mundo”; “A vida de Margarida” e “Zefinha quer casar”.

O uso indiscriminado de agrotóxicos, a produção ofensiva de transgênicos e o descuido com os saberes tradicionais foram alguns assuntos discutidos. Apesar de alguns avanços nas políticas públicas voltadas ao campo como o P1MC ou P1+2, Céu reafirmou a necessidade da continuidade das mulheres seguirem em marcha: “As tecnologias sociais de armazenamento de água fizeram uma revolução na vida de nós mulheres do semiárido, mas há ainda muitas mulheres que estão sozinhas em seu cantinho, porque não podem sair”, ressaltou.

Em outro espaço as representantes do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE) estimulavam a pauta “Mulheres na Luta pelo fim da Violência” que trouxe depoimentos fortes das mulheres sobre as violências sofridas e os caminhos de libertação. No início da noite aconteceu a abertura política da Marcha com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra da Secretária de Mulheres, Eleonora Menicucci e do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias.

Lula ressaltou que não haverá golpe e que a Marcha é um espaço de reafirmação de uma eleição democrática. "A presidenta Dilma deve estar agora orgulhosa de presidir um país que tem um povo da qualidade das margaridas que estão aqui hoje", disse o ex-presidente. "Hoje é um dia para celebrar a força das mulheres e do povo brasileiro", e completou: "se tem uma coisa que o povo brasileiro aprendeu nos últimos anos, foi fazer a sua própria história".

A ministra da secretária de Mulheres, Eleonora Menicucci, também defendeu a presidente Dilma: "mulher nenhuma pode aceitar o ódio de gênero, o ódio de quem não suporta uma mulher governando este país". Uma das principais pautas reivindicatórias da Marcha é a reforma agrária que não avançou na última gestão governamental. O ministro Patrus Ananias reacendeu tal compromisso em sua fala.




Marcharemos até que todas sejamos livres

Antes do sol tomar prumo, milhares de mulheres acenavam suas bandeiras, estendiam suas faixas de tecido, levantavam placas e ecoavam gritos de ordem, já nas primeiras horas da manhã de quarta. No Estádio Mané Garrincha a concentração para o grande ato de rua da Marcha ganhou força e as ruas de Brasília. As Margaridas coloriram o Eixo Monumental, culminando com o cercamento do Congresso Nacional, numa espécie de ciranda das mulheres brasileiras, da celebração da democracia.

Após a Marcha, as margaridas retornaram ao estádio Mané Garrincha para receber a presidenta Dilma em reposta a carta entregue no último dia três de julho aos ministros da Secretaria Geral, Política para Mulheres, Desenvolvimento Social e Combate a Fome e Desenvolvimento Agrário com a pauta da 5ª Marcha das Margaridas. O documento contempla 402 reivindicações das Margaridas do campo, da floresta e das águas e reflete demandas levantadas durante todos os encontros de preparação em todas as regiões do país, a partir de temas específicos e fundamentais para uma vida mais humana e com respeito à natureza.


A presidente Dilma disse em seu pronunciamento, após receber um chapéu de camponesa, símbolo da Marcha, que “decidida”, como descreve a música tema, é a melhor definição para todas as mulheres que estavam ali. “Mulheres decididas a batalhar juntas por um mundo melhor. Decididas a avançar nos direitos, repudiar a injustiça àqueles que menosprezam as mulheres. Decididas a lutar por mais autonomia e contra qualquer opressão. Decididas a reafirmar o poder das Margaridas de construir nossas histórias”, ressaltou. Já Alessandra Lunas, representante da secretaria de mulheres da CONTAG, a partir da realização da mística, na solenidade com a presidenta, finalizou “As margaridas seguem marchando para que continuemos a tirar nossas mordaças”.







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